Ato unificado denuncia opressões e desmonte da educação no Pará

“Não é um mal entendido, é racismo”. A frase no cartaz preto se destacava na tarde desta quarta-feira (29) durante uma manifestação realizada pelo Coletivo de Negras e Negros do Andes-Sindicato Nacional, como parte da programação do 43º Congresso, que acontece em Vitória (ES).

O ato unificado reuniu docentes de diversas regiões do país contra o racismo nas universidades, contra a transfobia e contra o desmonte na Educação Indígena no Pará.

Em caminhada, as e os docentes seguiram do Teatro Universitário até a Reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no campus Goiabeiras. No local, denunciaram o racismo institucional, a ausência de docentes  negras e negros nas universidades, a violência contra pessoas trans e o desmonte da Educação Pública no Pará.

O grupo adentrou a plenária do Congresso entoando palavras de ordem, onde fez a leitura de uma carta do coletivo.

“A luta contra os racismos, presentes em nossa sociedade, é a luta por um sociedade justa e equânime a partir da diversidade, entendemos que a superação do capitalismo e do fascismo não ocorre sem o fim do racismo, assim como todas as formas de opressão”, aponta trecho da carta.

A professora da Universidade de Brasília (UnB) e delegada da Associação dos Docentes da UnB -Seção Sindical do Andes-SN (ADUnB-SSind), Elizabeth Mamede da Costa, mais conhecida como Betinha, falou sobre a importância da campanha “Sou Docentes Antirracista”. “Essa campanha é um passo importante, porque além da gente discutir a questão do racismo nos ambientes acadêmicos, nós temos que discutir na sociedade e no seio do sindicato”

A delegada da ADUnB também apontou dois pontos importantes na realização do ato durante o Congresso. “Primeiro, a universidade precisa saber que ela possui professores negros e que professores negros têm pautas específicas dentro da formação desse país. A segunda é também denunciar que nós somos poucos, existem poucos professores negros no seio das universidades, e isso se deve realmente ao fato de que há 14 anos as universidades tem evitado nos contratar e burlando a Lei 12.990 sistematicamente. Queremos fazer parte da comunidade universitária na mesma porcentagem que nós fazemos parte da sociedade brasileira, porque só assim vamos influenciar nos currículos, influenciar na bibliografia adotada pelos cursos”, destacou Betinha.

Visibilidade Trans

Realizado no Dia Nacional da Visibilidade Trans, o ato também foi marcado pela denúncia dos casos de violência contra pessoas trans. “Transgeneridade é uma parte da nossa identidade, não é doença. O Brasil é um país que pelo 17º ano consecutivo se consagra como o país que mais mata travesti, mas mata a mulher trans”, destacou a professora da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo -SSind (Adusp SSind) Gabriele Weber Matias.

Desmonte da educação

Os ataques à educação especial indígena no Pará, também foi pauta do ato unificado, que reivindicou apoio às mobilizações para a revogação da Lei 10.820/2024, aprovada em dezembro passado, sem consulta prévia. A lei ataca o Sistema de Organização Modular de Ensino (Some) e o Sistema de Organização Modular de Ensino Indígena (Somei), que garantem aulas em localidades distantes e de difícil acesso, como o caso de algumas aldeias indígenas.

“Helder Barbalho quer substituir professor por televisor, quer retirar o direito que historicamente foi negado aos povos originários do Pará, quer colocar televisores em comunidades tradicionais, ribeirinhas, extrativistas, que muitas vezes não têm sequer acesso mínimos à internet. O governador está colocando em risco aqueles povos que mais defendem a floresta, que mais defendem a vida. Ele não quer que os povos indígenas se tornem professores para ocupar esse espaço da universidade”, destacou uma das professoras da delegação paraense.

Congresso do Andes-SN

O 43º Congresso do Andes-Sindicato Nacional, é realizado em Vitória (ES) e tem como tema “Só o Andes-SN nos representa: dos locais de trabalho às ruas contra a criminalização das lutas”. As atividades iniciaram na segunda (27) e seguem até sexta-feira (31).

Mais de 600 docentes de todo o país participam do evento que é a maior instância de deliberação da categoria. A delegação da ADUnB é formada por 11 delegadas e delegados, além de dois observadores.

Publicado em 29 de janeiro de 2025

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