Nota de repúdio ao Deputado Federal Gustavo Gayer (PL/GO) e de apoio ao povo palestino
A Associação dos Docentes da Universidade de Brasília - Seção Sindical do ANDES-SN (ADUnB-S.Sind) repudia de forma veemente um documento elaborado e publicizado pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL/GO), destinado à Embaixada dos Estados Unidos (EUA), que tem como assunto: “Informações sobre apoiadores de grupos terroristas no Brasil que visitam os EUA”.
No ofício endereçado à embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley, o parlamentar envia uma lista com 132 nomes de ativistas, estudantes, professores, parlamentares, organizações, instituições, partidos políticos, com o objetivo de limitar a possível entrada destas pessoas ou organizações no país americano, por supostamente, terem apoiado publicamente o ataque do Hamas contra Israel no dia 7 de outubro.
O parlamentar, representante de um projeto político derrotado nas urnas nas Eleições de 2022, aponta no documento que essas pessoas e organizações apoiam o terrorismo e portanto, representam ameaça ao país americano.
Por ora, cabe destacar que situações complexas, ainda mais que envolvem questões de geopolítica, apontam reflexões mais aprofundadas, ao contrário do que o parlamentar destaca em seu documento. “Ante aos atentados estarrecedores dos quais a nação de Israel tem sido vítima, não existe para nós, povo brasileiro, outro caminho senão o de nos solidarizarmos por completo com os inocentes que têm padecido pelas mãos sanguinárias de terroristas do Hamas. A crueldade desse grupo – que vitimou fatalmente, inclusive, cidadãos brasileiros – precisa e será, estamos certos, freada. Nossas orações a todos os que sofrem e aos combatentes à frente dessa batalha em defesa da liberdade do povo de Israel”.
Gustavo Gayer reproduz um discurso colonialista que legitima o massacre de uma ‘nação’ sob a outra, no caso o povo palestino. Os argumentos apontados pelo parlamentar reforçam preconceitos e estereótipos, além de invisibilizar o genocídio étnico, em curso, contra o povo palestino.
Conforme dados do Ministério da Saúde de Gaza, divulgados no domingo (22) pela Organização das Nações Unidas (ONU), 4.651 pessoas foram mortas desde 7 de outubro. Deste número 40% são crianças, 22% são mulheres e 4% são idosos. Os números apontam que são 14.245 mil palestinos feridos. Por outro lado, em Israel foram mortas 1.400 israelenses e cidadãos estrangeiros, a maioria no dia 7 de outubro.
No ofício, o parlamentar de extrema direita cita professores e estudantes da Universidade de Brasília, entre estes o professor emérito da UnB Nagib Nassar, reconhecido pelo legado científico e acadêmico para o país, por meio de pesquisas para melhoramento genético de plantas; os docentes do Instituto de Ciências Sociais: Berenice Bento, do Departamento de Sociologia, e Jacques de Novion, docente do Departamento de Estudos Latino-americano, ex-presidente deste sindicato.
Em um país com histórico de repressão, perseguição contra docentes, estudantes, sindicalistas, movimentos sociais e em tempos de democracia fragilizada, sobretudo nos últimos anos com aumento do fascismo e da violência política, é imprescindível que o campo democrático deste país se levante contra ações que tenham como pano de fundo violar o direito de cidadãs e cidadãos brasileiros a se manifestarem publicamente diante de situações como esta.
Garantir o debate aprofundado, a pluralidade e a liberdade de expressão é fundamental para a garantia da democracia. Por isso, defender a vida de um povo que tem sido injustiçado e massacrado ao longo das últimas décadas não pode ser confundido com defesa de terrorismo.
Diante do exposto, expressamos nosso repúdio ao discurso e à manifestação do Deputado Federal Gustavo Gayer (PL/GO) e reiteramos nosso apoio a todas as pessoas citadas, indevidamente, no ofício endereçado à Embaixada americana no Brasil, e manifestamos, oportunamente, mais uma vez, nossa solidariedade ao povo palestino que luta por seu território e liberdade.
Palestina livre!
Cessar fogo, já!
Brasília-DF, 23 de outubro de 2023
Diretoria da ADUnB-S.Sind
Publicado em 23 de outubro de 2023