O combate ao crime organizado exige justiça social, nunca extermínio
Primeiramente, é preciso afirmar que, diante de um cenário de barbárie, não podemos perder a capacidade de nos indignar.
A segurança pública é uma preocupação legítima e responsabilidade inquestionável do Estado no enfrentamento ao crime organizado. No entanto, qualquer debate sério sobre o tema deve, necessariamente, incluir a busca por justiça social, educação pública de qualidade, acesso universal à saúde, saneamento básico e a garantia de outros direitos fundamentais.
O que ocorreu nos Complexos do Alemão e da Penha, em 28 de outubro, expôs de forma contundente a falência do Estado no combate ao crime organizado. O Brasil e o mundo assistiram a um verdadeiro extermínio — sobretudo de jovens negros — realizado com a anuência do governo do Rio de Janeiro. Nenhuma sociedade pode legitimar a execução sumária.
Operações como essa não representam uma política de segurança pública bem-sucedida já que, o desmonte efetivo de facções criminosas exige planejamento estratégico, ações de inteligência articuladas e o enfrentamento da economia política do tráfico.
A “solução” proposta pela extrema direita para o problema da violência no país baseia-se em uma lógica de intervenção militar internacional violenta e indiscriminada — estratégia já adotada diversas vezes ao longo da história, como no Afeganistão e no Irã, e que ronda também a Venezuela e a Colômbia, sempre resultando em destruição e sofrimento, jamais em paz ou justiça.
A mais letal ação policial promovida pelo Estado do Rio de Janeiro escancara a espetacularização da necropolítica, instrumento que, neste momento, serve à rearticulação das forças da extrema direita e representa uma grave ameaça à soberania nacional.
A Associação dos Docentes da Universidade de Brasília – Seção Sindical do ANDES-SN (ADUnB-S.Sind) manifesta sua solidariedade às famílias enlutadas e se soma às vozes que exigem a apuração rigorosa dos fatos e a responsabilização das autoridades públicas do Estado do Rio de Janeiro diante de tamanha expressão de violência. Reafirmamos nosso compromisso com o fortalecimento dos mecanismos que asseguram o Estado Democrático de Direito.
Conclamamos todas e todos a participarem do ato público em defesa da vida e contra a necropolítica, que será realizado nesta sexta-feira (31), às 18h, no Museu da República.
Diretoria da ADUnB
Publicado em 31 de outubro de 2025