Presidente do Chile encerra visita ao Brasil com palestra na ADUnB sobre democracia

Nesta quinta-feira (24), o presidente do Chile, Gabriel Boric Font, encerrou sua visita oficial ao Brasil com uma palestra na Universidade de Brasília (UnB). Mais de 500 estudantes, docentes e convidadas e convidados e convidados lotaram o auditório da Associação dos Docentes da UnB-Seção Sindical do ANDES-SN (ADUnB-S.Sind) para ouvir Boric falar sobre “Democracia e Economia: isolamento versus cooperação”. O evento foi uma promoção da Reitoria da UnB e do Governo do Chile. A ADUnB apoiou com a transmissão online via YouTube.
Recebido pela reitora Rozana Reigota Naves e pelo vice-reitor Márcio Muniz de Farias, Boric foi homenageado na abertura. Naves ressaltou o papel da universidade na promoção da democracia e na integração com instituições de ensino chilenas. “Compartilhamos com vossa excelência a convicção de que a democracia se sustenta com justiça, participação cidadã e acesso universal ao conhecimento”, afirmou.
Democracia sob ameaça e resposta progressista
Boric iniciou sua fala mencionando Darcy Ribeiro e o livro O povo brasileiro, destacando a riqueza étnica e cultural do país. Em seguida, reconheceu o Brasil como liderança essencial para a articulação do Sul Global, especialmente em um cenário internacional que classificou como “incerto” e “vertiginoso”. Para ele, Brasil e Chile devem caminhar juntos na defesa do multilateralismo e na integração regional.
O presidente chileno enfatizou que os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que inspiraram a independência das Américas estão sendo ameaçados, e defendeu o fortalecimento da democracia como pilar do desenvolvimento. “A democracia e o multilateralismo nos permitiram sentar à mesa com outros países e nos posicionar como um ator relevante no sistema internacional”, disse, ao citar os 34 acordos comerciais assinados pelo Chile com o Brasil e outros países do continente europeu, americano e asiático, que cobrem 88% do PIB mundial.
Boric traçou paralelos entre as histórias recentes de Chile e Brasil, ressaltando a importância da resistência para a reconquista da democracia. “Porque tivemos que lutar para reconquistar a democracia, hoje a valorizamos e não a tomamos como garantida.” Ele também criticou as investidas da extrema direita e o que chamou de “falsa dicotomia” entre liberdade e democracia, “que ameaça os direitos e enfraquece os sistemas democráticos”, ressalta Boric.
Boric chamou a todos para “resistir às tentativas de autocracia, de negação da democracia e dos direitos humanos”, assim como para “construir alternativas progressistas para uma sociedade mais justa”.
“Não podemos nos limitar à denúncia. Precisamos propor caminhos viáveis para resolver as necessidades mais urgentes de nossos povos: insegurança, pobreza, crise climática, discriminação”.
O presidente fez um apelo à ação progressista: “A esquerda deve voltar a ser universalista, defender os princípios que inspiraram a luta pela liberdade das nossas nações — mais justiça, mais equidade, mais fraternidade. Devemos nos desafiar, ajustar nossas convicções ao tempo presente, sem ignorar as angústias do povo.”
Crise climática e o futuro da democracia
Boric apontou a crise climática como uma oportunidade para a América Latina. Com vastos recursos naturais como lítio, cobre e hidrogênio verde, ele defendeu que a região pode gerar riqueza de forma mais justa. No Chile, destacou medidas como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, investimentos em cultura, segurança pública e recuperação de áreas vulneráveis como parte de uma visão progressista de crescimento com coesão social.
Em relação à política global, Boric defendeu uma reforma na governança internacional, propondo o fim do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU e mais protagonismo para países como Brasil e Índia. Também defendeu impostos globais para enfrentar desigualdades geradas pelo enriquecimento às custas do Sul Global. “Todo ser humano tem o mesmo valor. Essa é a graça da democracia que defendemos.”
Boric também reforçou a importância da integração latino-americana e citou o Corredor Bioceânico — ligando o Brasil ao Chile — como um exemplo concreto de cooperação regional. “O Corredor conecta culturas, economias e povos. Isso é integração real, não só discurso em cúpulas”, destacou.
"América Latina tem uma oportunidade histórica para levantar a voz. E essa união não se constrói com retórica, mas com ações concretas voltadas ao bem-estar dos nossos povos."
Encerrando sua fala, o presidente dirigiu-se aos estudantes como protagonistas de um futuro democrático. “Vocês são o futuro do Brasil e do Chile. Como ex-líder estudantil, os convido a se organizar, a debater com quem pensa diferente, a sair das universidades e se encontrar com o povo”.
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Publicado em 25 de abril de 2025