ADUnB é palco da cerimônia de entrega diploma póstumo à família de Honestino Guimarães, morto pela ditadura militar
“Honestino, presente!”. Foi ao som destes gritos emocionados que aconteceu a cerimônia de outorga do diploma de geólogo à Honestino Guimarães. O Centro Cultural da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília - Seção Sindical do Andes-SN (ADUnB-S.Sind.) reuniu familiares e amigos de Honestino, além de docentes, discentes e técnico-administrativos da UnB na sexta-feira (29/7) para a entrega deste primeiro diploma póstumo emitido pela instituição.
O documento de conclusão de curso foi entregue ao primo de Honestino Guimarães, Sebastião Lopes Neto, pelas mãos da reitora da UnB, Márcia Abrahão. Na ocasião, Márcia aproveitou para pedir desculpas pela instituição à família do discente que foi um liderança histórica do movimento estudantil durante a ditadura militar. Sequestrado pelo regime em 1973, Honestino nunca teve seu corpo encontrado. A confirmação pública de sua morte ocorreu apenas em 1996.
Sebastião fez um histórico sobre a origem humilde do primo que, vindo do interior de Goiás, atuou em movimentos comunistas e de luta pela democracia, como dirigente e militante.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB, cujo nome homenageia a liderança, se fez presente durante a cerimônia, ressaltando, com gritos que ecoaram por todo auditório, que Honestino é muito mais do que um símbolo de resistência para os estudantes, é inspiração para luta pela educação e pelo fim do fascismo no país.
Além do DCE, participaram do evento representantes do Governo Federal, dentre eles a presidente da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Eneá Almeida, que é professora da Universidade. Parlamentares, como o Deputado Distrital, Fábio Félix, também se fizeram presentes.
O ex-reitor da UnB, José Geraldo de Souza Júnior, proferiu um discurso sobre a celebração. "Esta cerimônia representa também um ato de reparação. A decisão fez justiça a um dos nomes mais importantes do Brasil na luta contra a ditadura militar e na luta da democracia, dos direitos estudantis e da autonomia universitária", declarou José Geraldo, professor titular de Direito, que comandou a UnB entre 2008 e 2012.
Quem foi Honestino Guimarães
Honestino Guimarães foi um importante líder estudantil no período da ditadura, desaparecido político em 10 de outubro de 1973, após ser preso pela sexta vez, no Rio de Janeiro. Como aluno da UnB, Honestino foi eleito para o Diretório Acadêmico de Geologia e, em 1967, mesmo preso, foi eleito presidente da Federação dos Estudantes Universitário de Brasília.
Honestino nasceu em 28 de março de 1947, em Itaberaí (GO). Ele foi o primeiro colocado no vestibular para geologia realizado na UnB em 1965. Em agosto de 1968, forças do Exército e da polícia política invadiram a UnB para cumprir mandados de prisão contra Honestino e mais sete lideranças estudantis.
Em dezembro de 1968, com o AI-5 (Ato Institucional nº 5), Honestino fugiu de Brasília e passou a viver clandestinamente em São Paulo.
Em 1971, foi eleito presidente da União Nacional de Estudantes, no Rio de Janeiro. Em 1973, foi preso pelo Centro de Informações da Marinha, após cinco anos de clandestinidade.
O desaparecimento de Honestino foi denunciado pelos presos políticos de São Paulo, em documento datado de 1976. Apenas vinte anos depois, em 1996, o Estado reconheceu a responsabilidade por seu desaparecimento, quando a família de Guimarães recebeu um atestado de óbito do estudante emitido pelo poder judiciário do Rio de Janeiro, sem mencionar a causa da morte.
Em abril de 2014, Honestino foi oficialmente anistiado político post mortem pelo governo federal. Na época, o Ministério da Justiça também determinou a retificação do atestado de óbito para que constasse como causa da morte “atos de violência praticados pelo Estado”.
Publicado em 29 de julho de 2024