Desafios do movimento sindical docente são apontados em Seminário

O feriado e o calor intenso da quarta-feira (15/11) não impediu que docentes da Universidade de Brasília (UnB) e de outras regiões do país participassem do Seminário ‘Conjuntura Nacional e Movimento Docente: desafios e perspectivas’, realizado pela Associação dos Docentes da Universidade de Brasília - Seção Sindical do ANDES-SN (ADUnB-S.Sind).

“Nossa proposta é articular e acumular forças para um debate que aponte para as principais questões que estão articuladas ao movimento docente”, observou a presidenta da ADUnB-S.Sind, Eliene Novaes, que mediou o debate.

As perdas salariais, o avanço da extrema direita, as progressões e promoções funcionais, a pouca mobilização em torno das lutas coletivas, a precarização do trabalho docente e a redução dos investimentos na educação, estiveram na centralidade do debate no Seminário.

Docente aposentado, ex-reitor da UnB e colaborador voluntário em grupos de pesquisas da universidade, José Geraldo Júnior falou das agendas políticas em disputa, o aumento do fascismo. “Um dos desafios dessa conjuntura é recuperar a condição de relevância da estrutura funcional do Estado, um Estado que seja democrático”, ressaltou.

Para o docente, que é um dos fundadores do projeto ‘Direito Achado na Rua’, destacou que o dever do Sindicato é garantir a retribuição adequada, digna e decente ao trabalho. “Colocar a condição protagonista no político da capacidade sindical de ser não só corporação, mas de cidadania. A ADUnB sempre foi um sindicato de conquistas de direitos corporativos, mas sempre foi  também um sindicato de cidadania. Não se trata apenas de ganhos econômicos, mas também ganhos democráticos”, enfatizou José Geraldo.

Solidariedade de classe

Docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA)  e da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Celi Taffarel falou das disputas que atingem a Educação, a Ciência e a Tecnologia e sobre os desafios da categoria docente e do movimento sindical como um todo. De acordo com dados do Censo de 2022, são mais de 360 mil docentes em todo o país, nas redes públicas e privadas.

“Esse dado é um desafio. Como é que nós vamos chegar a esses professores, como é que vamos levantar nesses professores um motivo concreto para fazer o enfrentamento ao nazifascismo que está impregnando tudo? Desde as nossas famílias, aos nossos locais de trabalho, a igreja, os meios de comunicação. A direita avança e avança de maneira avassaladora. Como docentes temos que compreender aonde está o campo de luta, a disputa”, destacou.

Celi Taffarel apontou a responsabilidade dos sindicatos de base com o enfrentamento aos ataques contra a classe trabalhadora. “Atacou um trabalhador atacou a todos nós e nós temos também estar nessas lutas. Temos que estar nas lutas nos parlamentos, temos que estar na luta de mobilização, nas lutas com as mulheres, nas lutas com os indígenas, na luta com os quilombolas”, ressaltou a docente, apontando ainda que os dirigentes sindicais precisam reconhecer formas de luta e que todos podem se envolver com a luta sindical. “Não podemos pensar em nos fracionar, temos que nos unir, nos unificar e o Sindicato pensar em táticas de luta com os diferentes tipos de professores”.

A docente, que é ex-secretária Geral do ANDES-SN, finalizou apontando que a tarefa principal é “dialogar com cada professor para que reconheça como seu representante legítimo o ANDES Sindicato Nacional para fortalecer a luta sindical, porque é o principal instrumento da classe trabalhadora para garantir educação pública, laica, de qualidade, socialmente referenciada para todos”.

Demandas não são apenas individuais, são coletivas

Assessora jurídica da ADUnB-S.Sind, Larissa Rodrigues, apresentou os temas recorrentes na assessoria aos sindicalizados, entre estes a progressão e promoção funcional das professoras e professores, adicionais ocupacionais, insalubridade e periculosidade para os professores e questões relacionadas à aposentadoria.

“Nos deparamos com imposições administrativas que reforçam a sobreposição de uma lógica financista administrativa gerencial de mercadorização da força de trabalho acima do princípio de garantia da Educação pública de qualidade acima da compreensão de que o corpo docente das instituições federais de ensino são agentes protagonistas para assegurar a Educação pública de qualidade, esse é um ponto de percepção muito forte para nós da Assessoria Jurídica. É fato que a maior parte dos nossos atendimentos da nossa assessoria, da nossa escuta, se dá de maneira individual, mas entendemos que não são demandas meramente individuais, são demandas coletivas, porque não é um caso, são vários casos de professores”, observou Larissa Rodrigues.

Assessor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Alexandre Ferraz, destacou as mudanças na estrutura da Educação nos últimos anos e apontou os desafios da organização sindical, uma delas a de unificar a luta entre professores da rede pública e privada, técnicos administrativos. “Esse é um dos grandes desafios, em como unificar a luta, principalmente nesse contexto neoliberal”, destacou.

Desqualificação da política

Para a deputada federal, Erika Kokay (PT/DF), nos últimos anos o Brasil viveu uma desqualificação da política, desumanização do outro e o aumento e propagação de ódio contra as diferenças e desinformação. Ela pontuou o papel da extrema direita neste cenário. “Como eles não podem enfrentar uma agenda que é uma agenda de arrefecimento do desemprego, da inflação, de eliminação da pobreza, essa agenda não faz parte do universo de quem está lá representando a extrema direita. A agenda deles é sempre agenda do medo, é sempre agenda do ‘cuidado com a escola’, ‘cuidado com o professor’, ‘cuidado com a universidade’, ‘porque vai roubar sua família, porque vai impor uma orientação sexual ou a identidade de gênero para o seu menino e menina’. Todo o fundamentalismo é fruto de profunda ignorância e alimenta a própria ignorância”, observou a parlamentar, destacando o quão grave é a desqualificação da política.

“Utilizam estas pautas para poder manter vivos os seus eleitores e manter trincheiras, que são trincheiras que não passam pelo crivo nem da realidade, nem tampouco das políticas públicas para para dar autonomia e emancipação e independência ao nosso país por isso é que nós precisamos continuar enfrentando”, destacou Erika Kokay.

O Seminário transmitido online pelo canal da ADUnB-S.Sind no youtube contou com a participação do  coordenador geral do Sintfub, Edmilson Lima, Lúcia Lopes e Annie Schmaltz, representantes do ANDES Sindicato Nacional (colocar nomes aqui Lucia e Anne) e de outras seções sindicais de estados como Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro, Paraná, Alagoas, Minas Gerais.

O Seminário completo pode ser assistido neste link:

 

Publicado em 17 de novembro de 2023

Compartilhe: