Trabalho escravo contemporâneo é tema de reunião científica na UnB

A Universidade de Brasília (UnB) recebe, entre os dias 7 a 9 de novembro, a XVI Reunião Científica Trabalho Escravo Contemporâneo do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo (GPTEC).

Na abertura da reunião, realizada na manhã desta terça-feira (7/11), docentes da UnB e de outras universidades do país destacaram a importância e a atualidade do tema.

A Reunião Científica tem como objetivo promover um intercâmbio entre pesquisadores sobre escravidão contemporânea e questões correlatas.​Coordenadora da atividade, docente da UnB e filiada à ADUnB-S.Sind., Angela Teberga, destacou a importância da Reunião. “A responsabilidade de coordenar a Comissão Organizadora foi enorme. Só tenho um ano e meio de Universidade de Brasília e é um desafio estar à frente deste evento, é o segundo evento presencial após a pandemia. É também um evento especial porque a gente está completando 20 anos de GPTEC”, ressaltou.

Para a professora Elen Geraldes, do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania da UnB, o trabalho escravo é cercado de silêncios e silenciamentos. “É o que a gente vai chamar de um trabalho mal-dito, porque se fala muito pouco dele nas escolas, na mídia, quase não está presente nas campanhas educativas e de prevenção. É um trabalho invisibilizado que é cercado de preconceitos estereótipos, de apagamentos de gênero, raça e idade”, destacou a docente.

Também convidada para a atividade, a presidenta da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília - Seção Sindical do ANDES-SN (ADUnB-S.Sind), Eliene Novaes, iniciou falando sobre uma perspectiva pessoal e da importância de eventos como esse dentro da Universidade. “Eu sou fruto desse silenciamento que a professora Elen falou, fui empregada doméstica dos 9 aos 19 anos e dos 9 aos 15 nunca recebi salário. Eu me enquadro nesse silenciamento, nesse invisibilizamento do ser humano, que o trabalho exploratório tem. É um tema que me toca pessoalmente e também profissionalmente”, observou.

“Esse embrião de tirar da invisibilidade, da desumanização do trabalho escravo no campo, ou o análogo a escravo, ou trabalho precário no campo, foi uma tarefa que nós vivemos por muitos anos. Porque à medida que a gente entrava na vida das pessoas, a gente percebia que elas não tinham direito à educação. Majoritariamente os trabalhadores nos campos do trabalho da Cana, por exemplo, eram semianalfabetos. Então, eu entendo que essas questões todas nos permitem entender de quem é a responsabilidade de pensar sobre esses temas. É das famílias, é dos profissionais da educação, da saúde, da assistência, é da universidade? E esse grupo faz um trabalho fundamental para a universidade ter consciência e trazer à luz esse debate tão difícil de ser tratado”, ressaltou Eliene Novaes, que finalizou apontando que o tema precisa ser ainda mais amplamente discutido porque muitas vezes está “do nosso lado”.

A abertura foi seguida por uma Mesa sobre “Memórias de 20 anos do GPTEC”, com a participação de Adonia Antunes Prado (UFRJ), Gelba Cavalcante (UFRJ), Sonia Benevides (UFRJ) e Marcela Soares (UFF) e mediação de Ricardo Rezende (UFRJ).

Na programação, a Reunião Científica conta com 13 grupos de trabalhos com temas que discutem tráfico humano, exploração sexual, trabalho doméstico, racismo, trabalho rural, políticas de enfrentamento ao trabalho escravo, entre outros assuntos. A ADUnB-S.Sind é uma das apoiadoras da Reunião.

Programação

Na tarde desta terça-feira (7) foram realizadas as apresentações em quatro grupos. O diretor da ADUnB-S.Sind. e docente do Departamento de Serviço Social, Reginaldo Ghiraldelli, mediou os debates do GT 2 sobre “Trabalho escravo contemporâneo, tráfico humano, exploração sexual e questões migratórias”. No grupo, os trabalhos abordam os seguintes assuntos: “A trajetória de uma cafetina: Poder, dominação e as (in)visibilidades da violência no tráfico de pessoas”, “A interseccionalidade entre tráfico internacional, contrabando de migrantes, trabalho escravo e migração. Um aporte teórico à luz da Necropolítica”, “Trabalho escravo contemporâneo, tráfico internacional de pessoas e a atuação das Organizações internacionais” e “Tráfico de mulheres e meninas como chave de discussão para o combate ao crime de exploração sexual”.

A assessora jurídica da ADUnB-S.Sind, Larissa Rodrigues, mediou os debates do GT 5 sobre “Trabalho escravo contemporâneo e interseccionalidade”, que discutiu temas como “Trabalho Escravo no limiar da invisibilidade”, “Um olhar interseccional acerca do Caso Empregados da Fábrica de Fogos” e Análise do caso “Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus Familiares vs. Brasil” pela perspectiva de gênero, raça e estratégias de mobilização social.

Na quarta-feira (8), a partir das 14 horas, o diretor da ADUnB-S.Sind e docente do Instituto de Artes (IdA), Nelson Inocencio, media o GT 9 sobre “Trabalho escravo contemporâneo, racialização e racismo” que recebe trabalho com temas sobre “Generificação, racialização e a escravização contemporânea: a unidade na diversidade das classes trabalhadoras”, “Permanências da escravidão entre grupos quilombolas - uma ponte (partida?) entre o passado e o presente”, “Os estadistas do Império e a escravização ilegal: os africanos da casa de Bernardo Pereira de Vasconcelos” e “Educação jurídica antirracista como instrumento para o enfrentamento ao trabalho escravo”.

As atividades da Reunião terminam no dia 9 de novembro. A programação completa está disponível no site do evento.

GPTEC

O Grupo de Pesquisa é interdisciplinar e desenvolve estudos e pesquisas sobre a escravização contemporânea no Brasil desde 2003. O Grupo publicou diversos livros e dezenas de artigos sobre o tema e promove anualmente a Reunião Científica Trabalho Escravo e Questões Correlatas com pesquisadores e pesquisadoras de diversos centros de pesquisas e universidades do Brasil e do exterior.

 

Publicado em 07 de novembro de 2023

Galeria de imagens

Clique para ampliar
Compartilhe: