Reunião especial do Cepe marca 20 anos das cotas na UnB

O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da Universidade de Brasília (UnB) realizou, nesta quinta-feira (22), no auditório da Associação dos Docentes da UnB - Seção Sindical do ANDES-SN (ADUnB-S.Sind), reunião extraordinária com pauta comemorativa pelos 20 anos das cotas na UnB.
A política de acesso implementada no dia 6 de junho de 2003 na Universidade, tornou-se uma importante ferramenta de transformação social. Esta foi a certeza de quem esteve presente na solenidade que homenageou não apenas os alunos e docentes que atualmente ocupam o espaço da UnB, mas também aqueles que já passaram pelos campus e fizeram história.
O representante dos cotistas negros e negras da UnB, Jonathan Gonçalves Dutra de Souza afirmou que mais que uma política de ingresso na Universidade, é preciso existir também uma política de permanência. “Precisamos combater a violência na Universidade e afirmar que haverá sim, corpos negros ocupando esse espaço”, disse.
Para Amazonir Araújo Fulni-ô, a primeira indígena do país a se formar pelo sistema, as cotas são uma oportunidade para que os indígenas possam enfrentar o mercado de trabalho de igual pra igual. “Temos o direito de defender nossos direitos de maneira ativa sem deixar que outros falem por nós”, afirmou.
O evento contou ainda com a participação especial da Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que também é fruto da política de cotas só que na Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Eu sou fruto da favela e das cotas. Hoje, me vejo responsável pela pasta de políticas públicas de igualdade desse país. Gostaria de mostrar com isso, que nós podemos e estamos preparados para entrar em todo e qualquer lugar. A política de cotas me deu dignidade e dá dignidade para centenas de famílias”, se emocionou a ministra.
A secretária de Direitos Humanos da UnB, Deborah Silva Santos, aproveitou para lembrar o início de sua trajetória acadêmica. “Quando iniciei meu curso de História, eu não tinha referências. Apenas aprendi de como os negros enfrentaram violência, a escravidão, que não tinha referências históricas. Era isso que eu sabia sobre minha história. Hoje, temos a oportunidade de pensar os direitos humanos de uma maneira diferente, mais ampla”, destacou.
A reitora e o vice-reitor da UnB, Márcia Abrahão e Enrique Huelva, também participaram da cerimônia e destacaram a importância deste momento de reflexão. “É um momento mais para ouvirmos do que para falarmos para implementarmos novas mudanças”, afirmou Huelva, que participou da implementação do sistema de cotas em 2003.
Segundo Márcia Abrahão, o lugar onde foi realizado o evento já marca o espírito desta homenagem. “A essência de luta faz parte da ADUnB e este auditório representa isso. E é isso que queremos como Universidade, sermos ousados e seguirmos à frente com relação a esta luta”, afirmou.
Homenagens
Ao final, a professora Dione Oliveira Moura e os professores José Jorge de Carvalho e Nelson Inocencio, também diretor da ADUnB, foram homenageados por seus trabalhos realizados em prol de ações afirmativas elaboradas e debatidas na comunidade universitária nos últimos anos.
Memória
Em uma reunião do Cepe, no dia 6 de junho de 2003, foi aprovado o Plano de Metas para a Integração Social, Étnica e Racial, documento que definiu regras para a implementação da reserva de vagas a candidatos negros e negras nos processos seletivos da Universidade.
Esta ação, que gerou efeitos práticos já a partir de 2004, tornou a Universidade de Brasília a primeira federal a adotar o sistema de cotas. Desde então, 38.042 estudantes ingressaram por este sistema em todos os cursos de graduação da Universidade.
Publicado em 23 de junho de 2023